Diagnóstico mamográfico de microcalcificações suspeitas para malignidade e sua correlação com os achados |
Mammographic diagnosis of malignant-appearing microcalcifications and its correlation with pathological findings |
Gisele Alborghetti Nai |
Professora assistente do Departamento de Patologia – Faculdade de Medicina – Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) – Presidente Prudente – SP. |
Adriana Fleury Maria Fernanda F. B. Jacob Edilaine Gonçalves A. Silva |
Faculdade de Medicina – Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) – Presidente Prudente – SP. |
Ricardo Luís Barbosa |
Professor assistente do Departamento de Saúde Coletiva – Faculdade de Medicina – Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) -Presidente Prudente – SP |
Endereço para correspondência: Gisele Alborghetti Nai – Laboratório de Anatomia Patológica e Citopatologia – Unoeste – Rua José Bongiovani, 700 – CEP 19050-900 – Presidente Prudente – SP – Tel.: (18) 3229-1059 – Fax: (18) 3229-1194 – E-mail: patologia@unoeste.br Recebido para publicação em 02/2006. Aceito em 05/2006. |
Unitermos: mamografia, microcalcificações, câncer de mama, achados anatomopatológicos. |
Unterms: Mammography, microcalcifications, breast cancer, pathological findings. |
|
Sumário Na história natural dos carcinomas de mama, o diagnóstico pré-clínico pode produzir efeitos muito positivos no tempo de sobrevida. Microcalcificações constituem uma parte importante das lesões não palpáveis da mama e podem ser o primeiro sinal de um carcinoma mamário. Objetivo e métodos: Revisamos os resultados dos exames anatomopatológicos de 85 pacientes com lesões não palpáveis da mama, cujo diagnóstico mamográfico foi de microcalcificações suspeitas para malignidade, para avaliar a correlação entre os dois métodos. Resultados: Dos exames, 28,4% tratavam-se de alterações benignas do tecido mamário, 36,3% de lesões pré-malignas e 35,2% de carcinomas. Houve um predomínio dos carcinomas “in situ” (54,8%) e carcinomas do tipo ductal (58,6%). Discussão e conclusão: Na literatura, a correlação entre a mamografia e o exame histopatológico varia entre 68% e 98%, sendo que em nosso trabalho esta foi de 71,5% (kappa = 0,7). A grande variação da correlação entre estes dois exames pode ser estreitada pelo uso combinado da classificação de BI-RADS e de Le Gal na avaliação dos exames mamográficos. Microcalcificações à mamografia não são patognomônicas de carcinoma, mas representam uma área de alto risco no tecido mamário e requerem uma biópsia para exame histológico. |
Sumary In the natural history of the breast carcinomas, pre-clinical diagnosis may have positive effects on survival. Microcalcifications constitute an important part of non-palpable breast lesions and may be the first sign of a breast carcinoma. Objective and methods: We reviewed the pathological results from 85 patients with non-palpable breast lesion and malignant-appearing microcalcifications found on mammograms, and evaluated the correlation between the exams. Results: 28.4% were benign lesions of the breast, 36.3% were pre-malignant lesions, and 35.2% were carcinomas. Microcalcifications were more often associated with carcinoma “in situ” (54.8%) and ductal carcinoma (58.6%). Discussion and conclusion: The correlation between mammographic and pathological diagnosis has been reported to be between 68 and 98% in the detection of breast cancer. In our study, this correlation was 71.5% (kappa = 0.7). The association between BI-RADS lexicon and Le Gal classification maybe could reduce the ambiguity in assessment of breast microcalcification. Microcalcifications on the mammogram are not pathognomonic of carcinoma, but represent a high-risk area of the breast that requires a biopsy for histologic examination. |
Numeração de páginas na revista impressa: 134 à 138 RESUMO Na história natural dos carcinomas de mama, o diagnóstico pré-clínico pode produzir efeitos muito positivos no tempo de sobrevida. Microcalcificações constituem uma parte importante das lesões não palpáveis da mama e podem ser o primeiro sinal de um carcinoma mamário. Objetivo e métodos: Revisamos os resultados dos exames anatomopatológicos de 85 pacientes com lesões não palpáveis da mama, cujo diagnóstico mamográfico foi de microcalcificações suspeitas para malignidade, para avaliar a correlação entre os dois métodos. Resultados: Dos exames, 28,4% tratavam-se de alterações benignas do tecido mamário, 36,3% de lesões pré-malignas e 35,2% de carcinomas. Houve um predomínio dos carcinomas “in situ” (54,8%) e carcinomas do tipo ductal (58,6%). Discussão e conclusão: Na literatura, a correlação entre a mamografia e o exame histopatológico varia entre 68% e 98%, sendo que em nosso trabalho esta foi de 71,5% (kappa = 0,7). A grande variação da correlação entre estes dois exames pode ser estreitada pelo uso combinado da classificação de BI-RADS e de Le Gal na avaliação dos exames mamográficos. Microcalcificações à mamografia não são patognomônicas de carcinoma, mas representam uma área de alto risco no tecido mamário e requerem uma biópsia para exame histológico. INTRODUÇÃO O diagnóstico precoce do câncer de mama tem importância fundamental para o tratamento e prognóstico da doença. Cânceres de mama não palpáveis são aqueles detectados, exclusivamente, por mamografia e ultra-som, o que não necessariamente implica num câncer precoce ou mínimo. A mamografia é, atualmente, a única ferramenta que pode detectar lesões pré-malignas e um câncer na sua fase pré-invasiva, quando a possibilidade de cura é próxima a 100%. A detecção precoce é baseada na presença de microcalcificações(7,19). O significado das microcalcificações na mama tem sido reconhecido desde sua descrição inicial, em 1951, por Leborgne e pode ocorrer em lesões malignas ou benignas(4). Para melhor estimar o risco de malignidade e guiar o manejo das pacientes com lesões não palpáveis da mama, o Colégio Americano de Radiologistas criou a classificação de BI-RADS (Breast Imaging Reporting And Data System), a qual categorizou as lesões de 0 a 6. Para classificar as microcalcificações de acordo com a sua morfologia, adotou-se a classificação de Le Gal, que varia de 1 a 5(13). A combinação dos dois critérios de avaliação dos exames mamográficos é recomendada, visando estreitar o diagnóstico de malignidade(8). Na tentativa de aprimorar o diagnóstico das lesões malignas da mama, estudos têm comparado as características radiológicas das microcalcificações (como padrão dos grupamentos e número, forma e tamanho das calcificações) com os achados anatomopatológicos das peças cirúrgicas(2,4,5,7,8,10,19) e têm avaliado o valor preditivo da classificação de BI-RADS(1,8,15). Em nosso estudo, revisamos os resultados dos exames anatomopatológicos de pacientes com lesões não palpáveis da mama, cujo diagnóstico mamográfico foi de microcalcificações suspeitas para malignidade, para avaliar a correlação entre os dois métodos.
|
Bibliografia |
1. ____. Positive Predictive value of BI-RADS categorization in an Asian Population. Asian J. Surg. 2004; 27(3):186-191. 2. Colbassini Jr., H.J., Feller, W.F., Cigtay, O.S., Chun, B. Mammographic and pathologic correlation of microcalcification in disease of the breast. Surg. Ginecol. Obstet 1982; 155:689-696. 3. Cox, D., Bradley, S., England, D. The significance of mammotome core biopsy specimens without radiographically identifiable microcalcification and their influence on surgical management – A retrospective review with histological correlation. Breast 2005; 1. 4. Davis, R., Stacey, A.J. The detection and significance of calcifications in the breast: a radiological and pathological study. The British Journal of Radiology 1976; 49:12-26. 5. de Paredes, E.S., Abbitt, P.L., Tabbarah, S., Bickers, M.A., Smith, D.C. Mammografic and histologic correlations of microcalcifications. Radiografics 1990; 10(4):577-589. 6. Dinkel, H.P., Gassel, A.M., Tschammler, A. Is the appearance of the microcalcifications useful in predicting histological grade of malignancy in ductal cancer in situ? The British Journal of Radiology 2000; 73:938-944. 7. Ferranti, C., Coopmans de Yold, G., Bigazoli, E., Bergonzi, S., Mariani, L., Scaperrotta, G., Marchesini, M. Relationships between age, mammographic features and pathological tumor characteristics in non-palpable breast cancer. The British Journal of Radiology 2000; 73:698-705. 8. Gulsun, M., Deirkazik, F.B., Ariyuek, M. evaluation of breast microcalcifications according to Breast Imaging Reporting and Data System criteria and Le Gall’s classification. Eur. J. Radiol. 2003; 47(3):227-31. 9. Holland, R., Hendriks, J.H.C.L. Microcalcifications associated with ductal carcinoma in situ: mammographic-pathologic correlation. Seminars in Diagnostic Pathology 1994; 11(3):181-192. 10. Ishida, T., Izuo, M., Iino, Y., Ogawa, T. Yokoe, T, Kawai,T. Clinic-pathological studies of non-palpable breast lesion with mammographically detected microcalcification. Gan No Rinsho, 1985; Suppl (May):131-142. 11. Karamousis, M.V., Likaki-Karatza, E., Ravazoula, P. et al. Non-palpable breast carcinomas: correlation of mammographically detected malignant-appearing microcalcifications and molecular prognostic factors. Int. J. Cancer 2002; 102(1):86-90. 12. Kettritz, U. Morack, G., Decker, T. Stereotatic vaccum-assisted breast biopsies in 500 women with microcalcifications: radiological and pathological correlations. Eur J Radiol 2005; 55(2):270-6. 13. Le Gal, M., Chavanne, G., Pellier, D. Diagnostic value of clustered microcalcifications discovered by mammography (apropos of 227 cases with histological verification and without a palpable breast tumour). Bull Cancer 1984; 17(1):57-64. 14. Nishimura, S., Takahashi, K., Gomi, N. et al. What is the predictor for invasion in non-palpable breast cancer with microcalcifications? Breast Cancer 2004; 11(1):49-54. 15. Orel, S.G., Kay, N., Reynolds, C., Sullivan, D.C. BI-RADS categorization as a predictor of malignancy. Radiology 1999; 211(3): 845-50. 16. Podhola, M., Urminska, H. Combined radiologic and microscopic examination of nonpalpable brest lesions with microcalcification. Cesk Pathol 2004; 40(1):12-7. 17. Seror, J.Y., Antoine, M., Scetbon, F., Chopier, J., Sananes, S, Ghenassia, C, Uzan, S. Use of stereotaxic aspiration macrobiopsies in managing breast microcalcifications: first series of 115 prospective cases. Gynecol Obstet Fertil 2000; 28 (11):806-19. 18. Souza, A.Z., Hegg, R., Shu, S. B.T. Correlação entre o diagnóstico clínico, mamográfico e anatomopatológico em patologia mamária: análise de 1251 casos. J. Bras. Ginecol. 1985; 95(10):459-61. 19. Stamp, G.W.H., Whitehouse, G.H., McDicken, I.W., Leinster, S.J., George, D. Mammographic and pathological correlations in breast screening program. Clinical Radiology 1983; 34:529-542. 20. Stomper,, P.C., Geradts, J., Edge, S.B., Levine, E.G. Mammographic predictors of the presence and size of invasive carcinomas associated with malignant microcalcification lesions without a mass. AJR Am J Roentgenol 2003; 18(6)1679-84. 21. Tinnemans, J.G.M., Wobbes, T., Lubbers, E-J. C., van der Sluis, R.F., Boer, H.H.M. The significance of microcalcifications without palpable mass in the diagnosis of breast cancer. Surgery 1986; 99(6):652-657. 22. http://www.inca.gov.br – acessado em 15 de outubro de 2005. |