Colecistite enfisematosa |
Emphysematous cholecysitis |
Daniel Brito de Araújo |
Serviço de Clínica Médica do Hospital Escola – FAU. |
Marcelo Rios Pinto de Britto |
Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Escola – FAU. |
Ricardo Bertolino Silva3 |
Serviço de Clínica Médica do Hospital Escola – FAU. |
Fábio Eduardo Nunes Vieira Anderson Cunha Machado |
Médicos. |
Décio Valente Renck |
Serviço de Radiologia da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas e do Hospital Universitário – FAU. Ex-professor da Disciplina de Radiologia da Universidade Federal de Pelotas. Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia |
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas – Hospital Escola – Fundação de Apoio Universitário. Endereço para correspondência: Daniel Brito de Araújo – Rua São Vicente, 495/302 – CEP 90630-180 – Porto Alegre -RS – E-mail: danielb.araujo@bol.com.br Recebido para publicação em 05/2006. Aceito em 05/2006. |
Unitermos: colecistite enfisematosa, colecistite aguda, colecistite acalculosa, abdome agudo. |
Unterms: emphysematous cholecystitis, acute cholecystitis, acute abdome, acalsulous cholecystitis. |
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Sumário A colecistite enfisematosa é uma patologia relativamente rara, sendo a forma mais severa de colecistite aguda. É encontrada geralmente em pacientes idosos, debilitados ou diabéticos. É ocasionada por organismos formadores de gás e caracterizada pela presença deste no lúmen ou parede da vesícula biliar, bem como nos tecidos perivesicais, na ausência de uma comunicação anormal entre o sistema biliar e o trato gastrointestinal. Devemos sempre tê-la em mente quando do diagnóstico de colecistite aguda devido ao seu risco, aproximadamente trinta vezes maior, de evoluir com gangrena e, cinco vezes maior, de sofrer perfuração. A avaliação radiológica é de extrema importância, já que é a única forma de se fazer um diagnóstico precoce, o qual permanece um desafio devido ao alto grau de falha nos métodos habituais de imagem usados. O objetivo deste artigo é fazer uma revisão a respeito dos aspectos clínicos, dos métodos diagnósticos e do tratamento desta patologia. |
Sumary The emphysematous cholecystitis is a relatively rare variant of acute cholecystitis, seen most frequently in elderly, debilitated, or diabetic patients. It’s characterized by the presence of gas in the gallbladder lumen, wall or pericholecystic tissues in the absence of an abnormal communication between the biliary system and the gastrointestinal tract. We must always keep this diagnostic in mind because this entity is potentially more severe than acute non-emphysematous cholecystitis, with a approximated thirty times higher risk of gangrene and perforation five times higher. The radiological assessment is the standard method for the evaluation of bile ducts and gallbladder disease. It’s the only way to make an early diagnostic, which one remains a challenge in the practice due to a high degree of misdiagnosis by the habitual methods. The purpose of this article is make a review of the clinical features, the methods of diagnosis and the treatment of this pathology. |
Numeração de páginas na revista impressa: 117 à 119 RESUMO A colecistite enfisematosa é uma patologia relativamente rara, sendo a forma mais severa de colecistite aguda. É encontrada geralmente em pacientes idosos, debilitados ou diabéticos. É ocasionada por organismos formadores de gás e caracterizada pela presença deste no lúmen ou parede da vesícula biliar, bem como nos tecidos perivesicais, na ausência de uma comunicação anormal entre o sistema biliar e o trato gastrointestinal. Devemos sempre tê-la em mente quando do diagnóstico de colecistite aguda devido ao seu risco, aproximadamente trinta vezes maior, de evoluir com gangrena e, cinco vezes maior, de sofrer perfuração. A avaliação radiológica é de extrema importância, já que é a única forma de se fazer um diagnóstico precoce, o qual permanece um desafio devido ao alto grau de falha nos métodos habituais de imagem usados. O objetivo deste artigo é fazer uma revisão a respeito dos aspectos clínicos, dos métodos diagnósticos e do tratamento desta patologia. INTRODUÇÃO A colecistite enfisematosa (CE) é uma entidade relativamente rara, mas que vem tendo um maior número de relatos nos últimos anos em decorrência de uma melhora nas técnicas de imagem. Foi descrita pela primeira vez por Stolz, em 1901, durante uma necropsia. Pende, em 1907, foi o primeiro a descrever os achados cirúrgicos e Hegner, em 1931, foi o responsável pela primeira descrição radiológica e diagnóstica pré-operatória desta entidade(1). A CE é uma forma severa de infecção da vesícula biliar, desenvolvendo-se em aproximadamente 1% dos casos de colecistite aguda. É caracterizada pela presença de gás no lúmen, parede da vesícula biliar ou tecidos perivesicais, na ausência de uma comunicação anormal entre o sistema biliar e o trato gastrointestinal, sendo causada pela invasão da parede biliar por microrganismos formadores de gás, o qual se acumula na parede e/ou no lúmen vesical e, em alguns casos, nos tecidos perivesicais e sistema biliar(2-5). Os microrganismos relacionados com esta infecção são espécies de Kleibsiella, Staphylococcus, Streptococcus, Pseudomonas aeruginosa, sendo as espécies de Clostridium os microrganismos mais comumente implicados na gênese da CE(2,6). A Escherichia coli é também um germe freqüentemente presente, tanto sozinho ou como um copatógeno(4). Os microrganismos podem chegar até a vesícula por via hemática, linfática ou através da bile. Uma etiologia vascular primária, decorrente de uma oclusão da artéria cística, foi sugerida como sendo o insulto primário na maioria dos casos, nos quais a vesícula biliar isquêmica proporcionaria um ambiente em que os microrganismos formadores de gás proliferassem mais facilmente(2,4,6). Esta hipótese se suporta na observação histológica de estreitamento e oclusão arteriolar da parede da vesícula biliar.
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Bibliografia |
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