Projeto de extensão universitária na prevenção do câncer do colo uterino |
College extension project – cervix-uterine cancer prevention |
Natália Gomes Parizi Roberta C. M. Sanches Stephanie M. J. Maniçoba |
Faculdade de Medicina – Universidade do Oeste Paulista – Unoeste. |
Gisele Alborghetti Nai |
Professora assistente do Departamento de Patologia – Faculdade de Medicina – Universidade do Oeste Paulista – Unoeste. |
Trabalho realizado na Faculdade de Medicina “Dr. Domingos Leonardo Cerávolo” da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) – Rua José Bongiovani, 700 – CEP 19050-900 – Presidente Prudente – SP. Endereço para correspondência: Gisele Alborghetti Nai – Laboratório de Anatomia Patológica e Citopatologia – Unoeste – Rua José Bongiovani, 700 – CEP 19050-900 – Presidente Prudente – SP – Tel.: (18) 229-1059 – Fax: (18) 229-1194 – E-mail: patologia@unoeste.br Recebido para publicação em 06/2005. Aceito em 08/2005. |
Unitermos: extensão universitária, câncer do colo uterino, citologia cervicovaginal, prevenção. |
Unterms: college extension project, cervix-uterine cancer, cervicovaginal cytology, prevention. |
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Sumário Introdução: O câncer do colo uterino é o segundo tipo de câncer que mais mata mulheres. Em 2000 ocorreram, no Brasil, mais de 22 mil casos, com taxa de óbito de 6,8%. Diversos trabalhos comprovaram a eficácia do rastreamento em massa deste câncer, através da citologia cervicovaginal, o qual é um exame rápido, de fácil realização e com baixo custo. Objetivos: Nosso projeto visa orientar as pacientes sobre os fatores de risco para o câncer do colo uterino e a importância da realização periódica da citologia cervicovaginal, coletar os exames cervicovaginais para detectar possíveis neoplasias e proporcionar aos alunos vivenciar novas realidades. Material e método: Os exames das pacientes foram realizados durante mutirões de saúde em Presidente Prudente (SP) e região. Na anamnese foram coletados os dados pessoais das pacientes, antecedentes ginecológicos e sexuais, procedendo a coleta da citologia cervicovaginal, conforme preconizado. Resultados: Foram atendidas 259 mulheres, a maioria (24,6% – n=64) na faixa etária entre 51 e 60 anos. A principal queixa foi leucorréia (17% – n=44), sendo que 56% (n=145) vieram apenas para realizar o exame; 10,4% (n=26) nunca haviam realizado o exame; 4,3% (n=11) haviam realizado há cinco anos ou mais; e 28,6% (n=74) num intervalo de um ano. Apenas 0,8% (n=02) apresentavam lesões neoplásicas. Conclusão: A realização da citologia cervicovaginal periódica em mulheres com vida sexual ativa acarretará em diminuição da morbidade e mortalidade pelo câncer do colo uterino no Brasil, para isso, faz-se necessário um maior número de ações educativas. |
Sumary Introduction: The second most common cause of cancer death among women is the cervix-uterine cancer. In 2000 there were over 22 thousand cases in Brazil and death rate for cervix-uterine cancer was of 6.8%. Several works had corroborated the mass screening effectiveness of this cancer by cervicovaginal cytology, a quick, easy and inexpensive procedure. Objectives: Our project aims to provide orientation to patients about the risk factors of cervix-uterine cancer and the importance of a periodical cervicovaginal cytology examination, collecting cervicovaginal secretions to detect possible neoplasia and provide students with a solidfoundation. Methods and materials: Patients examinations were carried out on Community Health Care Projects in the city of Presidente Prudente (State of Sao Paulo) and vicinity. After individual data collection from anamnesis and sexual and gynecologic history interview, cervicovaginal cytology collection was carried out as preconized. Results: Most of the 259 examined women (24.6% – n=64) aged 51 to 60 years. Leukorrhea was the main related disorder (17% – n= 44), whereas 56% of these women have come just for Papanicolaou testing, 10,4% (n= 26) have never had a Pap smear, 4.3% (n=11) have had a Pap testing over the last 5 years or more, and 28.6% (n=74) have the test done on an annual basis. From these only 0.8% (n = 02) presented neoplastic lesions. Conclusion: Periodic cervicovaginal cytology evaluation among women who are sexually active should bring about a decreasing morbidity and mortality associated with cervix-uterine cancer in Brazil, and as to that more education programs should be required. |
Numeração de páginas na revista impressa: 43 à 48 RESUMO Introdução: O câncer do colo uterino é o segundo tipo de câncer que mais mata mulheres. Em 2000 ocorreram, no Brasil, mais de 22 mil casos, com taxa de óbito de 6,8%. Diversos trabalhos comprovaram a eficácia do rastreamento em massa deste câncer, através da citologia cervicovaginal, o qual é um exame rápido, de fácil realização e com baixo custo. Objetivos: Nosso projeto visa orientar as pacientes sobre os fatores de risco para o câncer do colo uterino e a importância da realização periódica da citologia cervicovaginal, coletar os exames cervicovaginais para detectar possíveis neoplasias e proporcionar aos alunos vivenciar novas realidades. Material e método: Os exames das pacientes foram realizados durante mutirões de saúde em Presidente Prudente (SP) e região. Na anamnese foram coletados os dados pessoais das pacientes, antecedentes ginecológicos e sexuais, procedendo a coleta da citologia cervicovaginal, conforme preconizado. Resultados: Foram atendidas 259 mulheres, a maioria (24,6% – n=64) na faixa etária entre 51 e 60 anos. A principal queixa foi leucorréia (17% – n=44), sendo que 56% (n=145) vieram apenas para realizar o exame; 10,4% (n=26) nunca haviam realizado o exame; 4,3% (n=11) haviam realizado há cinco anos ou mais; e 28,6% (n=74) num intervalo de um ano. Apenas 0,8% (n=02) apresentavam lesões neoplásicas. Conclusão: A realização da citologia cervicovaginal periódica em mulheres com vida sexual ativa acarretará em diminuição da morbidade e mortalidade pelo câncer do colo uterino no Brasil, para isso, faz-se necessário um maior número de ações educativas. INTRODUÇÃO O câncer do colo uterino é o segundo tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil. Isso tem ocorrido por diversos fatores, como falta de conhecimento sobre a doença, falta de orientação para a realização do exame de Papanicolaou (citologia cervicovaginal), a conscientização da importância deste exame na prevenção do câncer, medo, vergonha e dificuldade de acesso aos locais de coleta(8). De acordo com dados absolutos sobre a incidência e mortalidade do câncer do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer do colo uterino foi responsável pela morte de 3.953 mulheres no Brasil em 2000. Para 2003, as estimativas previam 16.480 novos casos de câncer do colo uterino e 4.110 óbitos((11), diversos trabalhos já comprovaram a eficácia do rastreamento em massa para o câncer do colo uterino, através da colpocitologia oncótica (exame de Papanicolaou)(5,12,15). Outros métodos de rastreamento das lesões cervicais, tais como captura híbrida para o papilomavírus humano (HPV), já foram sugeridos, porém a inspeção visual associada ao exame de Papanicolaou é que tem demonstrado melhor desempenho, além de menor custo(4,12,16). O exame colpocitológico cervicovaginal (exame de Papanicolaou) é um exame rápido, de fácil realização e com baixo custo que não detecta apenas o câncer em estágios avançados, mas também em estágios iniciais e suas lesões precursoras. A detecção precoce do câncer do colo uterino, além de aumentar a sobrevida das pacientes, com possibilidade de cura, permite um tratamento mais conservador, diminuindo a morbidade e com menores gastos hospitalares (cirurgias menores com menor tempo de internação), sendo que alguns procedimentos podem ser realizados em nível ambulatorial, evitando-se gastos com tratamentos coadjuvantes, tais como quimio e radioterapia. O projeto de extensão universitária “Prevenção do câncer do colo uterino” existe desde 2000, estando vinculado a Faculdade de Medicina “Dr. Domingos Leonardo Cerávolo” e a Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade do Oeste Paulista – Unoeste. O projeto procura proporcionar conhecimento sobre o câncer do colo uterino e conscientizar as mulheres da importância da prevenção, assim como proporcionar atendimento àquelas que não têm acesso ou têm acesso dificultado à realização do exame de Papanicolaou, buscando a diminuição da morbimortalidade desta doença na região de Presidente Prudente (SP). Visa, também, melhorar o conhecimento do acadêmico de Medicina sobre o trato genital inferior feminino, mais especificamente sobre o câncer do colo uterino. Busca conscientizar o acadêmico da importância, não só das atividades curativas, mas da realização de exames preventivos e da orientação da população. MATERIAL E MÉTODO O atendimento às pacientes é realizado nos mais diversos cenários, como salas de aulas, vestiários de ginásios de esporte e, excepcionalmente, em Postos de Saúde. Na ante-sala de atendimento são colocados cartazes sobre os fatores de risco do câncer do colo uterino e, enquanto as pacientes aguardam, os alunos ministram palestras e distribuem folhetos explicativos. Primeiramente, é realizada anamnese, na qual são coletados os dados pessoais e antecedentes ginecológicos, sexuais e familiares das pacientes e, posteriormente, realizada a coleta da citologia cervicovaginal, conforme preconizado, pelos acadêmicos sob orientação de docente médico. O material coletado foi analisado por médico patologista no laboratório de anatomia patológica e citopatologia da Unoeste, a conclusão diagnóstica foi dada segundo o Sistema de Bethesda e os laudos foram posteriormente enviados ao Posto de Saúde central de cada localidade. RESULTADOS No período de março de 2003 a agosto de 2004 foram atendidas 259 mulheres de Presidente Prudente (SP) e região, a maioria (24,7%) na faixa etária entre 51 e 60 anos, seguidas pelas pacientes entre 41 e 50 anos (22,4%); apenas uma paciente era menor de 15 anos, 9 estavam entre 16 e 20 anos, 33 pacientes entre 21 a 30 anos, 56 entre 31 a 40 anos, 29 entre 61 a 70 anos e 9 acima de 71 anos. Em relação ao grau de escolaridade, nossas pacientes, em sua maioria (50,8%), possuíam apenas o ensino fundamental, sendo que 39% possuíam o fundamental incompleto; 19,3% das pacientes tinham ensino médio, 3% ensino superior e 8,5% eram analfabetas. A renda familiar da maioria das pacientes (13,9%) estava entre R$ 201,00 e 300,00, 1,1% possuía renda menor que R$ 100,00 e 5,8% tinham renda superior a R$ 1.000,00; 54% das pacientes não souberam ou não quiseram referir a renda familiar. Quanto ao acesso à informação, 62,2% referiram assistir TV e 20% possuíam o hábito de ler jornais. A maioria das mulheres (49%) eram do lar e 38,2% trabalhavam fora; as demais não informaram. Com relação a antecedentes mórbidos pessoais, 5% tinham hipertensão arterial, 0,4% era diabética, 14,3% eram tabagistas e 4,6% etilistas. Grande parte das mulheres examinadas estavam na menopausa (38,2%), no entanto, apenas 7% delas realizavam terapia de reposição hormonal (TRH). A maioria das pacientes não faziam uso de métodos contraceptivos; 25% usavam anticoncepcional (oral ou injetável) e apenas 12% preservativos. A idade da primeira relação sexual e o número de parceiros das pacientes estão representados nos Gráficos 1 e 2, respectivamente. Apenas 4,2% das pacientes referiram ter apresentado doença sexualmente transmissível anteriormente e 22% já haviam feito ao menos uma cauterização. Das pacientes, 5,4% eram nulíparas, 8,5% primíparas, 17,7% tiveram dois partos, 21,6% três partos e 33,5% quatro partos ou mais; e 33,2% das pacientes referiram ter sofrido um ou mais abortos. Procuraram nosso projeto apenas para a realização do exame de Papanicolaou 65,6% das pacientes. Dentre as pacientes com queixa, 17% eram de leucorréia, seguida de 4,6% de pacientes queixando-se de prurido vaginal e 12,7% apresentavam outras queixas, como sangramentos, dispareunia, dor pélvica, entre outros.
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