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Terapia com células-tronco
Stem-cells therapy


Evelyne Márlia Fernandes de Andrade
Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte.
Anderson Pontes Arruda
Evelane Marques Ribeiro
Professores de Genética da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte.
Erlane Marques Ribeiro
Professora de Genética e Pediatria da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte. Geneticista do Hospital Geral César Cals e Hospital Infantil Albert Sabin. Mestre pela FMUSP.
Endereço para correspondência: Rua: D. Expedito Lopes, 2360/1303 – Dionísio Torres – Fortaleza – CE – CEP 60135-410 – E-mail: erlaneribeiro@yahoo.com.br
Recebido para publicação em 08/2005. Aceito em 09/2005.

Unitermos: células-tronco, terapia, transplante.
Unterms: stem-cells, therapy, transplant.


Sumário
As células-tronco são células primitivas, produzidas durante o desenvolvimento do organismo e que têm capacidade de gerar diferentes tipos celulares, reconstituir diversos tecidos e de se auto-replicar. Existem dois tipos de células-tronco, as embrionárias, derivadas do estágio de blastocisto do embrião, e as adultas (hematopoiéticas), originadas, principalmente, da medula óssea e do sangue do cordão umbilical. Estas células trazem a possibilidade de regenerar partes debilitadas do corpo e de curar doenças que ainda desafiam os tratamentos com drogas.

Sumary
The stem cells are primitive cells, produced during the development of the organism and that have capacity to generate different cellular types, to reconstitute several woven and of solemnity-replying. Two stem cells types exist, the embryonic ones, derived of the apprenticeship of blastocisto of the embryo and the adult ones (hematopoieticas) originated, mainly, of the bone marrow and of the blood of the umbilical cord. These cells bring the possibility to regenerate weakened parts of the body and of curing diseases that still challenge the treatments with drugs.

Numeração de páginas na revista impressa: 11 à 16

RESUMO


As células-tronco são células primitivas, produzidas durante o desenvolvimento do organismo e que têm capacidade de gerar diferentes tipos celulares, reconstituir diversos tecidos e de se auto-replicar. Existem dois tipos de células-tronco, as embrionárias, derivadas do estágio de blastocisto do embrião, e as adultas (hematopoiéticas), originadas, principalmente, da medula óssea e do sangue do cordão umbilical. Estas células trazem a possibilidade de regenerar partes debilitadas do corpo e de curar doenças que ainda desafiam os tratamentos com drogas.

INTRODUÇÃO

A célula-tronco (CT) é definida como a célula com capacidade de gerar diferentes tipos celulares e reconstituir diversos tecidos, dependendo do tipo de célula-tronco. Além disso, apresenta a propriedade de auto-renovação, ou seja, gerar uma cópia idêntica a si mesma(1,2). Podem ser chamadas de “adulta” e “embrionária”. As células-tronco adultas (CTA) mais facilmente disponíveis e comumente utilizadas nas clínicas de fertilização são as células-tronco hematopoiéticas, cujas principais fontes são a medula óssea e o sangue de cordão umbilical. As células-tronco embrionárias (CTE) são definidas por sua origem e são derivadas do estágio do blastocisto do embrião. A CTE é normalmente utilizada, em alguns países, a partir dos blastocistos gerados em clínicas de fertilização, onde o casal doa, para a pesquisa com fins terapêuticos, os blastocistos não utilizados para a fertilização in vitro(1).

Uma célula única, resultante da fusão de um óvulo e um espermatozóide, já tem no seu núcleo o DNA com toda a informação genética para gerar um novo ser. Após a fecundação ela começa a se dividir: uma célula em duas, duas em quatro, quatro em oito e assim por diante. Pelo menos até a fase de oito células, cada uma delas é capaz de se desenvolver em um ser humano completo. São chamadas de totipotentes. Na fase de 8 a 16 células, as células do embrião se diferenciam em dois grupos: um grupo de células externas que vão originar a placenta e anexos embrionários, e uma massa de células internas que vai originar o embrião propriamente dito. Após 72 horas, este embrião agora com cerca de 100 células é chamado de blastocisto. É nesta fase que ocorre a implantação do embrião na cavidade uterina. As células internas do blastocisto vão originar as centenas de tecidos que compõem o corpo humano. São chamadas de células-tronco embrionárias pluripotentes. A partir de um determinado momento, essas células somáticas que ainda são todas iguais começam a diferenciar-se nos vários tecidos que vão compor o organismo: sangue, fígado, músculos, cérebro, ossos etc. Os genes que controlam esta diferenciação e o processo pelo qual isso ocorre ainda são um mistério. O que sabemos é que, uma vez diferenciadas, as células somáticas perdem a capacidade de originar qualquer tecido. As células descendentes de uma célula diferenciada vão manter as mesmas características daquela que as originou, isso é, células de fígado vão originar células de fígado, células musculares vão originar células musculares e assim por diante. Apesar do número de genes e do DNA ser igual em todas as células do nosso corpo, os genes nas células somáticas diferenciadas se expressam de maneiras diferentes em cada tecido, isso é, a expressão gênica é específica para cada tecido. Com exceção dos genes responsáveis pela manutenção do metabolismo celular (housekeeping genes) que se mantém ativos em todas as células do organismo, só irão funcionar em cada tecido ou órgão os genes importantes para a manutenção deste. Os outros se mantêm “silenciados” ou inativos(3).

Para que uma população de células possa ser considerada células-tronco, deve reunir as seguintes características relacionadas com sua funcionalidade: células indiferenciadas, com capacidade proliferativa, capazes de automanter a população (auto-replicação), capazes de produzir grande número de progenitores de células indiferenciadas, capazes de regenerar tecidos depois de uma injúria(4). A esta capacidade de diferenciação celular múltipla se tem chamado também de plasticidade celular. Além da origem das células-tronco, existem outros fatores que influenciam o processo de diferenciação celular, como o microambiente em que se encontram diferentes citocinas expressadas em distintos momentos de sua diferenciação, assim como sinais intercelulares, densidade celular e deficiência de outras células no microambiente(5).

Nos últimos anos, as células-tronco deixaram de ser um conceito do interesse apenas científico e passaram a ocupar, além de muitas páginas nos compartimentos científicos, as páginas da imprensa. Os conhecimentos desse campo da medicina têm evoluído de forma quase que diária, aumentando as expectativas dos doentes e dos médicos de que essas células irão contribuir com a cura de múltiplas enfermidades humanas devastadoras(6), como a diabetes mellitus, a esclerose múltipla, a doença de Parkinson, as cardiomiopatias, as doenças hepáticas, as distrofias musculares, e uma série de lesões agudas, como o manejo de queimaduras, lesões da medula espinhal, acidentes vasculares cerebrais e infartos do miocárdio, leucemias, doenças auto-imunes, e outras(6,7). No centro do debate científico, político e ético está situado a utilização e pesquisa das células-tronco embrionárias(6). A retirada de células-tronco de pré-embriões produz a morte desse “conjunto de células”: daí, fulcro das polêmicas, é quanto a podermos produzir esses pré-embriões com o fim específico, não de gerarmos novos seres humanos, mas sim de fabricarmos “remédios” contra patologias graves. A polêmica passa também pela preocupação de que a utilização dessas novas técnicas possa levar, progressivamente, a uma “desumanização”, com dano irreparável ao respeito à vida, vigente em nossa cultura(8).

CLONAGEM TERAPÊUTICA PARA A OBTENÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO

Se pegarmos um óvulo cujo núcleo foi substituído por um de uma célula somática e, ao invés de inseri-lo em um útero, deixarmos que ele se divida no laboratório, teremos a possibilidade de usar essas células, que na fase de blastocisto são pluripotentes, para fabricar diferentes tecidos. Isso abriria perspectivas fantásticas para futuros tratamentos porque, hoje, só em laboratório se consegue cultivar células com as mesmas características do tecido de onde foram retiradas. É importante que as pessoas entendam que na clonagem para fins terapêuticos serão gerados só tecidos, em laboratório, sem implantação no útero. Não se trata de clonar um feto até alguns meses dentro do útero para depois lhe retirar os órgãos como alguns acreditam(3).

A clonagem terapêutica teria a vantagem de evitar rejeição, se o doador fosse a própria pessoa. Seria o caso, por exemplo, de reconstituir a medula em alguém que se tornou paraplégico após um acidente ou para substituir o tecido cardíaco em uma pessoa que sofreu um infarto. Entretanto, essa técnica tem suas limitações. O doador não poderia ser a própria pessoa no caso de afetados por doenças genéticas, pois a mutação patogênica causadora da doença está presente em todas as células. No caso de usar linhagens de células-tronco embrionárias de outra pessoa ter-se-ia, também, o problema da compatibilidade entre o doador e o receptor. Seria o caso, por exemplo, de um afetado por distrofia muscular progressiva que necessita substituir seu tecido muscular. Ele não poderia utilizar-se de suas próprias células-tronco, mas de um doador compatível que poderia ser eventualmente um parente próximo. Além disso, não sabemos se no caso de células obtidas de uma pessoa idosa, por exemplo com doença de Alzheimer, se as células clonadas teriam a mesma idade do doador ou seriam células jovens. Uma outra questão em aberto seria a reprogramação dos genes que poderiam inviabilizar o processo dependendo do tecido ou do órgão a ser substituído. A clonagem terapêutica trata-se de uma tecnologia que necessita de muita pesquisa antes de ser aplicada no tratamento clínico. Por esse motivo, a grande esperança no curto prazo para a terapia celular vem da utilização de células-tronco de outras fontes(3).

TERAPIA CELULAR COM OUTRAS FONTES DE CÉLULAS-TRONCO

a) Indivíduos adultos
Conhece-se a existência de células-tronco em praticamente todos os órgãos do corpo humano adulto(4). Existem em vários tecidos (como medula óssea, sangue, fígado) de crianças e adultos. A célula-tronco hematopoiética é definida como uma célula com grande capacidade de auto-renovação e potencial proliferativo, o que possibilita a sua diferenciação em células progenitoras de todas as linhagens sangüíneas e a reconstituição da população hematopoiética a partir de uma única célula, caracterizam-se também pela sua capacidade de autoduplicar-se, pela expressão dos antígenos CD34, CD45RaO e tHY-1, constituem de 0,05% a 0,1% da medula óssea humana e das células hematopoiéticas circulantes(9,10).

A maior limitação dessa técnica, o autotransplante, é que ela não serviria para portadores de doenças genéticas. É importante lembrar que as doenças genéticas afetam 3% a 4% das crianças que nascem. Ou seja, mais de 5 milhões de brasileiros para uma população atual de 170 milhões de pessoas. É verdade que nem todas as doenças genéticas poderiam ser tratadas com células-tronco, mas tendo em vista somente as doenças neuromusculares degenerativas, que afetam uma em cada mil pessoas, falamos de quase duzentas mil pessoas(3).

b) Cordão umbilical e placenta
Pesquisas recentes vêm mostrando que o sangue do cordão umbilical e da placenta são ricos em células-tronco. Entretanto, também não sabemos ainda qual é o potencial de diferenciação dessas células em diferentes tecidos. Se as pesquisas com células-tronco de cordão umbilical proporcionarem os resultados esperados, isto é, se forem realmente capazes de regenerar tecidos ou órgãos, esta será certamente uma notícia fantástica, porque não envolveria questões éticas. Teríamos que resolver então o problema de compatibilidade entre as células-tronco do cordão doador e do receptor. Para isso será necessário criar, com a maior urgência, bancos de cordão públicos, à semelhança dos bancos de sangue, o que é uma prioridade em vários estados brasileiros hoje, principalmente considerando-se a sua importância e utilidade já comprovada no caso de doenças hematológicas. Isso porque se sabe que, quanto maior o número de amostras de cordão em um banco, maior a chance de se encontrar um doador compatível. Experiências recentes já demonstraram que o sangue do cordão umbilical é o melhor material para substituir a medula em casos de leucemia(3,6).

c) Células embrionárias
Se as células-tronco de cordão não tiverem a potencialidade desejada, a alternativa será o uso de células-tronco embrionárias obtidas de embriões não utilizados que são descartados em clínicas de fertilização. Os opositores ao uso de células embrionárias para fins terapêuticos argumentam que isso poderia gerar um comércio de óvulos ou que haveria destruição de “embriões humanos” e não é ético destruir uma vida para salvar outra(8).

Na década passada, estudos in vivo e in vitro revelaram as potencialidades de diferenciação de células da crista neural (CN) individuais, levando à descoberta de células-tronco da CN. O modo como a diversidade dos tipos celulares derivados CN surge, no embrião de vertebrado, tem sido uma pergunta-chave na biologia do desenvolvimento. Estabeleceu-se que os fatores ambientais têm um papel importante na correta diferenciação dos derivados da CN no organismo. Embora seja claro que a diferenciação celular final das células individuais está de acordo com a sua localização final no embrião, é necessário realçar que as células da CN que atingem locais-alvo são pluripotentes e as restrições impostas nas suas potencialidades ocorrem somente numa fase mais tardia do desenvolvimento.

A CN é, deste modo, um conjunto heterogêneo de células que é submetida a sinais ambientais localizados nas várias estruturas derivadas da CN. Foram assim identificados vários fatores que favorecem a diferenciação de subgrupos de células derivadas da CN, in vitro. Para além destes fatores foram também identificadas novas moléculas capazes de controlar um ou vários aspectos da diferenciação celular da CN in vivo, através da estratégia molecular de ”gene targeting” em ratos. As endotelinas (e os seus receptores) são um exemplo destas moléculas(12).

A telomerase é uma ribonucleoproteína que adiciona repetições de telômero aos extremos do cromossomo, mantendo a longitude do telômero, o que é fundamental para o tempo de replicação celular. A expressão da telomerase é correlacionada estreitamente com a imortalidade das linhagens celulares humanas. Encontram-se grandes quantidades de telomerase nas células germinativas e nos tecidos embrionários. Os altos níveis de atividade da telomerase encontrados nas linhagens de células-tronco embrionárias sugerem que seu tempo de vida de replicação excede o das células somáticas(12).

TRATAMENTO

Devido às células-tronco terem o potencial de diferenciar-se em qualquer tipo de células no organismo, existe a esperança que elas levem ao tratamento de muitas enfermidades como o mal de Parkinson, Alzheimer, insuficiência cardíaca, esclerose múltipla, doença de Huntington, lesões na medula espinhal, assim como a criação de tecidos novos, como a pele(6,7). Além disso, o entendimento dos diferentes e múltiplos fatores que regulam a auto-replicação destas células poderia levar ao entendimento de muitas formas de câncer.

A aplicação clínica das células e o transplante de seus progenitores começaram quando a humanidade se expôs a radiações letais produzidas pelo advento da era nuclear, em 1945. Nessa época se experimentou em ratos os efeitos dessa radiação, demonstrando-se que o transplante de medula óssea proveniente de uma nova fonte de tecido hematopoiético diminuía os efeitos causados pela radiação. Em 1961, Till e McCulloch demonstraram a existência de precursores hematopoiéticos e propuseram que estas células teriam a habilidade de se auto-renovar e de gerar várias linhas tecidos.

O problema com o potencial destas células é controlar seu crescimento e diferenciação. Se grandes números de células-tronco embrionárias são transplantados a um órgão, como o cérebro, estas crescem diferenciando-se em todos os tipos celulares, podendo formar um teratoma.

As enfermidades tratadas com as células-tronco embrionárias pertencem a duas categorias: a primeira seria o tratamento de doenças que requerem o implante específico de linnhagens celulares, como os neurônios produtores de dopamina na doença de Parkinson, e a segunda categoria seria o tratamento de implante das células-tronco que tinham falhado, como no transplante de células-tronco em uma anemia aplásica(7).

Ao mesmo tempo, ambas as células-tronco embrionária e adulta despertaram muito interesse de aplicações potenciais no campo recentemente da medicina regenerativa. Há, porém numerosos obstáculos técnicos que devem ser superados, antes da aplicação difundida e rotineira destas células na terapia clínica. Entre o mais formidável destes desafios inclui: barreira imunológica contra alógenos transplantados das células-tronco, potencial teratogênico das células-tronco embrionárias, preciso controle de determinação de linhagem celular e plasticidade limitada de células-tronco adultas(14).

O transplante autólogo de células-tronco (TACT) se baseia na destruição completa e transitória do sistema imune pela ação de um imunossupressor associado à radioterapia de corpo inteiro, seguido pelo reimplante das células-tronco do mesmo indivíduo, previamente retiradas. O TACT apresenta mortalidade de 1% a 3% em pacientes com câncer de mama, fato este que autoriza seu estudo como terapêutica alternativa em pacientes com esclerose múltipla que não respondem aos tratamentos imunossupressores e/ou imunomoduladores. Em 1997, Fassas e col. coletaram células-tronco do sangue periférico por aférese, após estímulos e fatores de mobilização celular. A seguir, após imunossupressão, as células-tronco foram reimplantadas. Houve boa tolerância ao procedimento e os autores notaram que, após período de 6-18 meses, os pacientes apresentaram melhora clínica(15).

Um estudo retrospectivo mostrou que o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas periféricas é uma técnica segura, que permite o uso de altas doses de quimioterapia e irradiação corporal total e assegura uma recuperação hematológica correta(15).

O uso de células-tronco embrionárias nos transplantes não autólogos pode levar a que estas células sejam rejeitadas pelo organismo. Anteriormente a evidência mostrava que estas células não eram reconhecidas pelo sistema imune do hospedeiro, mas estudos recentes têm mostrado que estas células são capazes de expressar MHC (complexo de maior histocompatibilidade) em humanos em níveis menores do que o normal produzido por uma célula diferenciada. Apesar de que este potencial de expressar MHC poderia ser evitado, transformando geneticamente estas células. Esse caso também poderia ser evitado usando transplantes autólogos, provenientes de células-tronco do organismo. As células-tronco multipotentes adultas poderiam ser uma fonte de células-tronco para transplantes autólogos. Estas células podem diferenciar-se em células hematopoiéticas e de vários tecidos in vivo e podem ser selecionadas da medula óssea própria do paciente a ser tratado. Usando este tipo de células não seria necessário transformar células-tronco embrionárias para evitar a produção de MHC e sua subseqüente rejeição(7).

O transplante de células progenitoras hematopoiéticas apresenta bases sólidas para ser indicado no tratamento das doenças auto-imunes(17). Transplantes autólogos dessas células para doenças auto-imunes (DAI) graves e refratárias à terapia convencional têm sido realizados desde 1996, principalmente dirigidos a doenças reumáticas e neurológicas, com resultados encorajadores. De modo geral, dois terços dos pacientes alcançam remissão duradoura da doença auto-imune, embora a morbimortalidade relacionada ao transplante ou à recidiva e progressão da DAI ainda constituam problemas significativos(18).

As doenças auto-imunes mais freqüentemente tratadas com o transplante de células-tronco hematopoiéticas são a esclerose múltipla, a esclerose sistêmica, o lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, as citopenias auto-imunes e as vasculites sistêmicas, mas têm sido criado vários protocolos para outras doenças, incluindo a doença de Crohn, os pênfigos e o diabetes mellitus(17).

As doenças cardiovasculares são uma das maiores causas de mortalidade no mundo ocidental. Um dos fatores que contribui na progressão da falha do coração é a perda das células cardíacas após o infarto do miocárdio, combinada com a ausência de um mecanismo endógeno adequado ao reparo. O miocárdio lesado substituído por uma cicatriz fibrosa, promovendo o desenvolvimento da perda da função ventricular, onde atualmente o transplante alogênico do coração é o único tratamento eficaz(19).

Entretanto, recentemente, a terapia baseada no uso de células-tronco adultas retiradas da medula óssea transformou-se em uma opção realista para substituir células cardíacas danificados, sendo usadas no tratamento de isquemia e do infarto agudo do miocárdio, melhorando a função ventricular e a perfusão miocárdica ou diminuindo o tamanho do infarto(20).

Depois do implante em uma escara fibrosa miocárdica, a diferenciação de células-tronco em cardiomiócitos, todavia, não está estabelecida claramente. Os maiores problemas pendentes com este tipo celular são que depois de implantada em uma escara fibrosa, as células podem diferenciar-se em fibroblastos, com o risco de se tornar “uma escara dentro de uma escara”. Daí a importância da forma como se realiza o implante(21).

Aparentemente, de acordo com muitos estudos, a transformação das células-tronco se deve apenas a fusão celular com as células parenquimatosas, dotando as células-tronco de uma função especializada(22).

As propriedades terapêuticas das células-tronco contidas nos tecidos dos corpos adultos já são utilizadas há muitos anos em duas indicações: coleta (durante um período de remissão), cultura e reinfusão das próprias células-tronco hematopoiéticas em doentes de leucemia que tiveram aplasia celular por uma quimioterapia, além de coleta, cultura e transplante das células-tronco da própria pele em grandes queimados. Mais recentemente, dois brilhantes sucessos da terapia celular se tornaram públicos na França. Em 2000, a equipe de Alain Fisher tratou “crianças-bolhas” (atingidas por um déficit imunológico de origem genética), retirando células-tronco de sua medula óssea, cultivando-as e, após modificá-las geneticamente, reinfundindo-as. Em 2001, a equipe de Philippe Ménasché coletou células-tronco de um músculo da perna (mioblastos) de uma pessoa atingida por um infarto do miocárdio. Estas células foram colocadas em cultura e em seguida reinfundidas no coração onde o enxerto foi assimilado e melhorou a performance cardíaca. As células enxertadas adotaram o ritmo de trabalho das células do coração. Trata-se, nesses casos, de auto-transplantes(23).

A infusão sistêmica de células progenitoras autólogas expandida “ex-vivo” é praticável e segura a curto prazo. Demonstrou-se que o transplante alogênico da medula óssea, nas crianças com osteogênese imperfeita, resulta em mudanças histológicas nas trabéculas ósseas, indicando uma densa formação óssea. Além disso, a taxa de crescimento aumentada e as freqüências reduzidas das fraturas ósseas foram observadas. Essas mudanças, detectadas três meses após o transplante de medula, foram associadas com o engajamento de células progenitoras funcionais na medula transplantada(24).

Foi relatado o caso de um paciente com leucemia mielóide aguda em segunda remissão que foi submetido a um transplante alogênico não relacionado de células progenitoras do sangue periférico. O procedimento se caracterizou por uma rápida recuperação hematopoiética, uma rejeição aguda rápida e uma crônica localizada. O paciente se encontra em recuperação completa após 24 meses, o que é um índice encorajador das vantagens desse procedimento realizado pela primeira vez em Cuba(25).

A medula óssea contém uma população de células-tronco que se podem diferenciar em linhas diferentes de células, incluindo adipócitos, osteócitos, condrócitos, mioócitos, astrócitos(26). Reparos de defeitos em ossos grandes ainda é um desafio para o ortopedista e cirurgião maxilo-facial. A disponibilidade de células-tronco pluripotentes de fontes autólogas ou alogênicas e o potencial de induzir o fenótipo osteogênico está motivando a exploração e desenvolvimento de materiais conhecidos como “construtores ósseos biogenéticos”(27).

A utilização das células pluripotentes criopreservadas, presentes na medula óssea ou no sangue periférico após sua infusão, permite a recuperação medular após a administração de altas doses de quimioterapia. A formação de cristais de gelo durante o processo de criopreservação é um evento importante e é a principal causa de destruição celular e retardo na recuperação medular após infusão das células descongeladas(28).

ASPECTOS ÉTICOS E SOCIAIS

Apesar da importante discussão conceitual e técnica desse tema, existem aspectos relevantes a este respeito, como as considerações éticas e sociais que se relacionam com a fonte das células em questão para ser usadas. Este ponto se encontra permanentemente em discussão e não está perto de chegarem a uma solução que satisfaça todas as posturas(29).

A ética no campo da medicina tem como fim prover uma marca para a tomada de decisões. No campo da investigação, estará baseado nos princípios declarados no Relatório Belmont: caridade, respeito para as pessoas e justiça(30).

Recentemente, conhece-se as habilidades das células-tronco adultas de produzir células de uma linhagem diferente do tecido ou órgão que lhe deu origem e cuja utilização terminaria com sérios problemas técnicos, como a histocompatibilidade CT-receptor, obtendo células geneticamente idênticas as do mesmo paciente e também permitiria eliminar o problema ético da manipulação de embriões humanos(5).

O uso de embriões para obtenção de células-tronco (clonagem terapêutica) tem gerado muita polêmica. As pesquisas com embriões de até 14 dias, para clonagem terapêutica, foram permitidas na Grã-Bretanha. É importante salientar que, ao contrário da clonagem reprodutiva, estes embriões nunca serão implantados no útero, mas sim direcionados para fabricar tecidos ou órgãos e não novas vidas humanas. Sabemos que milhares de embriões, gerados por casais que procuram clínicas de fertilização, são descartados todo ano. Por que não utilizá-los para tentar salvar vidas? Pesquisas recentes mostram resultados que parecem muito promissores.
Entretanto, os argumentos contra o uso de embriões para clonagem terapêutica são:

· Pode abrir caminho para clonagem reprodutiva humana;
· Pode gerar um comércio de embriões que seriam fabricados apenas para esta finalidade;
· Destruir embriões significa destruir vidas.

A questão ética que se coloca então é: quando começa a vida? No momento da fertilização? Nesse sentido é importante lembrarmos que a chance de que um embrião fertilizado, implantado em um útero materno, transforme-se em vida é menor do que 10%. Por outro lado, a chance de que um embrião fertilizado em um laboratório, que não foi implantado, transforme-se em vida é ZERO. Não se pode destruir uma vida para salvar outra, dizem os religiosos. Mas, se não utilizarmos embriões que são normalmente descartados para tentar salvar vidas, não estaremos destruindo duas vidas(31)?

Deixar os embriões congelados por muito tempo, também seria uma agressão tremenda. Já que estes congelados envelhecem. Com o passar do tempo é mais difícil recuperar embriões viáveis e em boas condições para desenvolver um adulto sem anomalias. Logo esta decisão é sinônimo de matá-los lentamente.
O descongelar dos embriões para usar suas células na terapia de células-tronco ou para implantação no útero continua os seus desenvolvimentos, mas só a implantação destes, garante que suas células se manterão vivas. Assim, sendo o único uso compatível com as éticas cristãs(31).



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