Medicina nuclear na prática nefrourológica |
Nuclear medicine in the nephrourologic practice |
Benedita Andrade L. de Abreu |
Médica Nuclear do Centro Bionuclear de Diagnóstico. |
José Tibúrcio Monte Neto |
Clínica Nefrológica do Piauí (Clinefro). |
Evandro Leal de Abreu Naiana Alves de Brito Melo Everardo Leal de Abreu |
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Piauí (UFPi). |
Juliana de Sousa Britto |
Faculdade de Medicina da Universidade Estadual do Piauí (FACIME). |
Endereço para correspondência: Rua Des. Pires de Castro 489-Sul – Teresina – Piauí – E-mail: bionuclear@uol.com.br |
Unitermos: medicina nuclear, cintilografia renal |
Unterms: nuclear medicine, renal scintigraphy. |
|
Sumário Os procedimentos de Medicina Nuclear são uma forma de avaliação funcional dos rins que podem oferecer valorosa contribuição na definição de conduta em muitas entidades nosológicas do aparelho urinário. Existem traçadores específicos para avaliar diferentes aspectos da função renal, como taxa de filtração glomerular (TFG), função cortical, ou secreção tubular e fluxo plasmático renal efetivo (FPRE). Os autores descrevem os principais tipos de procedimentos e radiotraçadores empregados na prática diária na nefrourologia. Falam da importância destes métodos na avaliação de patologias renais como hidronefroses, pielonefrites, hipertensão renovascular, litíase renal e outras. |
Sumary Renal nuclear medicine studies can provide means of renal function evaluation that may offer a great contribution in defining medical decisions towards some pathologic situations of the urinary tract. There are specific tracers to evaluate different aspects of renal function, such as glomerular filtration rate (GFR), cortical function or tubular secretion and efective renal plasm flow (ERPF). The authors describe the main types of procedures and radiotracers commonly used in daily nephrourologic practice. It is stressed the importance of those methods as adjuvants in the investigation and decision making process in clinical conditions like hidronephrosis, renovascular hypertension, pielonephritis, renal lithiasis and others. |
Numeração de páginas na revista impressa: 45 à 48 Resumo Os procedimentos de Medicina Nuclear são uma forma de avaliação funcional dos rins que podem oferecer valorosa contribuição na definição de conduta em muitas entidades nosológicas do aparelho urinário. Existem traçadores específicos para avaliar diferentes aspectos da função renal, como taxa de filtração glomerular (TFG), função cortical, ou secreção tubular e fluxo plasmático renal efetivo (FPRE). Os autores descrevem os principais tipos de procedimentos e radiotraçadores empregados na prática diária na nefrourologia. Falam da importância destes métodos na avaliação de patologias renais como hidronefroses, pielonefrites, hipertensão renovascular, litíase renal e outras. Introdução A medicina nuclear dispõe atualmente de radiotraçadores que nos permitem avaliar a função renal sob vários aspectos, podendo, assim, contribuir para avaliação funcional dos rins em diferentes condições clínicas e contribuir de forma decisiva no diagnóstico, manuseio e conduta em uma variedade de patologias nefrourológicas(1). Diferentes radiotraçadores renais possuem distintos mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos, de localização e fornecem informações funcionais específicas que podem ser de grande importância na prática nefrourológica diária(2). Entre os mais utilizados rotineiramente no Brasil poderíamos citar: a) o DTPA-Tc99m (ácido dietileno triamino pentácetico) é um quelato que se elimina quase exclusivamente por filtração glomerular e, não sendo reabsorvido nem secretado, pode ser utilizado para cálculos da taxa de filtração glomerular; b) o DMSA-Tc99m (ácido dimecapto succínico), utilizado nas imagens renais estáticas, após administração EV é incorporado nas células parietais dos túbulos contornados proximais, fornecendo imagens que refletem o córtex renal funcionante; c) o MAG3-Tc99m (mecarptoacetiltriglicina), cujo mecanismo de eliminação renal é quase exclusivamente por secreção tubular, sendo o seu “cleareance” altamente correlacionado com o fluxo plasmático renal efetivo (FPRE); d) o EC-Tc99m (etileno dicisteinato), também concentrado no parênquima renal por secreção tubular, recentemente produzido no Brasil pelo IPEN; e) o EDTA- Cr51, utilizado para cálculos da taxa de filtração glomerular por ser um traçador de comportamento semelhante a inulina; f) o GH-Tc99m (gluco heptanato), que tem excreção tanto cortical como por filtração glomerular(2). Os procedimentos em medicina nuclear utilizando estes radiotraçadores oferecem informações importantes a respeito do grau de comprometimento funcional em diferentes condições clínicas, que podem ser definitivas na conduta clínica e na decisão terapêutica. Exemplificaremos alguns grupos de patologias nos quais a Medicina Nuclear pode ter importante contribuição: a) nas patologias que causam retenção pielocaliceal, produzindo hidronefrose ou hidroureteronefrose; b) nas pielonefrites e nas nefropatias de refluxo; c) na hipertensão renovascular; d) nos pacientes transplantados renais; e) na litíase urinária; f) na insuficiência renal aguda(3). Nas patologias que causam retenção pielocaliceal Na dilatação do sistema coletor evidenciado pela TC (tomografia computadorizada) ou US (ultra-sonografia), sem causa aparente, o paciente é quase sempre assintomático, diferentemente da obstrução urinária aguda, em que a dor é o sintoma mais freqüente. A hidronefrose ou distensão do sistema pielocaliceal, descrito ultra-sonograficamente não é sinônimo de obstrução, que neste caso pode estar presente ou não. O renograma diurético é de grande importância para diagnosticar ou excluir obstrução do trato urinário, permitindo diferenciar de forma não invasiva uma obstrução de uma dilatação não obstrutiva(4,5). O método que é considerado “gold standard” para obstrução, é o teste de Whitaker que mede diretamente a pressão no trato de saída, mas é um teste invasivo, tendo suas maiores indicações nos casos de pelves muito dilatadas ou quando a função renal é muito comprometida. Nos casos de hidronefrose pré-natal, a avaliação inicial com radioisótopos e o seguimento evolutivo devem fazer parte do controle pós-natal rigoroso, pois a resolução espontânea pode acontecer, mas deve-se estar atento à possível deterioração da função renal secundária à obstrução. Nas crianças que são acompanhadas conservadoramente o renograma diurético é parte fundamental desse acompanhamento, sendo valorizados, além do grau de comprometimento da drenagem renal, dados como: a função renal diferencial, o tamanho da pélvis renal; para que se possa intervir cirurgicamente antes que se inicie a deterioração da função renal(8). O renograma diurético é também importante para documentar, numa avaliação pós-operatória, se há fluxo urinário adequado e se houve alívio da obstrução e melhora da função renal após a intervenção cirúrgica do tipo plastia. Além disso, serve como estudo basal para seguimento posterior do controle evolutivo do paciente, se ele voltar a tornar-se sintomático. Hans G. Pohl et al., avaliaram 150 crianças submetidas a pieloplastia em que o renograma diurético, três meses após a pieloplastia, é usado para predizer o sucesso cirúrgico da correção(6). Num paciente em que a obstrução foi previamente tratada e surgem sintomas sugestivos de obstrução recorrente, o renograma diurético pode ser de grande valor, uma vez que a dilatação, avaliada pela ultra-sonografia ou outro método anatômico, vai ainda estar presente secundária à obstrução prévia(3).
|
Bibliografia |
1. Jofré MJ, Sierralta CP. Medicina nuclear en el tracto nefrourinario. Rev Chil Radiol 2002;8:59-62. 2. Cabrera ME, Gasset IC. Nefourologia y medicina nuclear en la actualidad. Arch Esp Urol 2001; 54(6): 637-648. 3. Taylor A, Schuster DM, Alazraki N.- A clinician’s guide to nuclear medicine. Chapter 3 The genitourinary system Society of Nuclear Medicine Inc 2000; 45-76. 4. Conway JJ. The “well tempered” diuretic renogram. Up date paediatric 1999;(1) 6-11 5. O’Reilly P, Aurell M, Britton K. Consenensus on diuresis renography for investigating the dilated upper renal tract. J.Nucl Med 1996;(37):1872-1876. 6. Pohl HG, Rushton HG, Park JS. Early diuresis renogram findings predict success following pyeloplasty. J Urol 2001; (165): 2311-2314. 7. Gordon I. Diuretic renography in infants with prenatal unilateral hydronephrosis: an explanation for the controversy about poor dreinage. BJU International 2001; (87): 551-535. 8. Gomez FA, Aransay BA, Delgado MD, Lopez VF, Serrano HC, Hernandez C, Manrique LA. Is it necessary to use an isotopic diuretic renogram in grade II pyelocaliceal dilatations diagnosed with ultrasonography? Actas Urol Esp 2001; 25(1): 60-63. 9. Buyan N, Bircan ZE, Ozturk E, Bayhan H, Rota S. The importance of Tc99m DMSA scaning in the localization of chilhood urinary tract infections. Int Urol Nephrol 1993;(25):11-17. 10. Piepsz A.-Radionuclide studies in paediatric nephro-urology, Eur J Radiol 2002; 43:146-153. 11. Meller J, Sahlmann CO, Becker W. Nuclear medicine studies in the dialysis patient. Semin in Dialysis 2002;4(15): 269-276. 12. Woolfson RG, Neild GH. Renal Nuclear Medicine: can it survive the millennium? Nephrol Dial Transp 1998; (13):12-14. 13. MaiseyM. Radionuclide renography: a review. Curr Opin Nephrol Hypertens 2003; 12: 649-652. 14. Rossleigh MA. Renal cortical Scintigraphy and diuresis renography in infants and chilren. J Nucl Med 2001; 42:91-95. 15. Farnsworth RH, Rossleigh MA, Leighton DM, Bass SJ, Rosemberg AR.- The detection of reflux nephropathy in infants by Tc99 DMSA studies. J Urol 1991; (25):11-17. 16. Merrick MV, Uttley WS, Wild SR. The detedtion of pyelonefritic scarring in children by radioisotope imaging. Br J Radiol 1980; (53): 544-556. 17. Witear P, ShawP, Gordon I, comparison of Tc99DMSA scans and intravenous urography in children. Br J Radiol 1990;(63): 438-443. 18. Maghraby TAF, van Eck-Smit BLF, Fijter JW, Pauwels EKJ. Quantitative scintigraphic parameters for the assessment of renal transplant patients 19. Goodgold HM, Fletcher J W, Steunhardt G F. Quantitative Tc99DMSA renal scaning in children. Urology 1996; (47): 405-409. 20. Taylor A, Lallone RL, Hagan PL.-Optimal handling of DMSA for quantitative renal scaning. J Nucl Med 1980; (21):1190-1194. 21. Dobovsky EV, Russell CD. A. Report of the radionuclides in Nephrourology Committee for evaluation of transplanted Kidney (review of techniques). Semin Nucl Med 1999;(29) 175-179. 22. Gonzalez A, Puchal R, Bajen MT. Tc 99m MAG3 renogram deconvolution in normal functioning kidney grafts. Nucl Med Commun 1994; (15) 680-684. 23. De Lange EE, Pauwels EKJ, Lobatto S, Gi-van Loon CET, van Hooff JP. Scintigraphic detection of urinary leakage after kidney transplantation. Eur J Nucl Med 1982; 7:55-57. |