Dieta e doença coronariana: nutrição nas dislipidemias |
Diet and coronary heart disease: dyslipidemia nutrition |
Liliana Paula Bricarello |
Nutricionista. Mestre em Ciência da Saúde pela UNIFESP/EPM. Nutricionista do Setor de Dislipidemias do IDPC. Membro da diretoria do Departamento de Nutrição da SOCESP. |
Unitermos: dieta, doença coronariana, nutrição. |
Unterms: diet, coronary heart disease, nutrition. |
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Sumário A doença coronariana continua sendo a principal causa de morte em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os nutricionistas e os consumidores estão em busca de alternativas que vão além da restrição de gordura saturada e colesterol da alimentação na prevenção e tratamento das dislipidemias, que podem ocasionar a aterosclerose. O consumo regular de determinados alimentos mostrados neste artigo, pode oferecer uma alternativa para reduzir o risco de desenvolver doença coronariana. Esses alimentos, podem proporcionar benefícios isolados ou mesmo associados a outros alimentos e/ou terapias que reduzem o colesterol. Esses alimentos trazem aos nutricionistas opções para a elaboração de cardápios mais saborosos, atrativos, menos restritivos, que ocasionará maior adesão à terapia nutricional proposta ao paciente. |
Sumary The coronary heart disease is the main cause of death in industrialized as well as non industrialized countries. Something in addiction to the dietary restrictions of facts have been loocked for physicians and consumers. The regular consumption of the foodstuffs as proposed in this article may represent a rather interesting alternative. |
Numeração de páginas na revista impressa: 7 à 11 Resumo A doença coronariana continua sendo a principal causa de morte em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os nutricionistas e os consumidores estão em busca de alternativas que vão além da restrição de gordura saturada e colesterol da alimentação na prevenção e tratamento das dislipidemias, que podem ocasionar a aterosclerose. O consumo regular de determinados alimentos mostrados neste artigo, pode oferecer uma alternativa para reduzir o risco de desenvolver doença coronariana. Esses alimentos, podem proporcionar benefícios isolados ou mesmo associados a outros alimentos e/ou terapias que reduzem o colesterol. Esses alimentos trazem aos nutricionistas opções para a elaboração de cardápios mais saborosos, atrativos, menos restritivos, que ocasionará maior adesão à terapia nutricional proposta ao paciente. —————- As mais recentes diretrizes do National Cholesterol Education Program de 2001 (NCEP, 2001) e as III Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC, 2001), mostram que até o tratamento dietético vem sofrendo adequações. Isso porque cada vez mais os órgãos competentes vêm dando maior ênfase à mudança de estilo de vida para o tratamento de várias doenças, dentre elas as cardiovasculares. As dietas preconizadas anteriormente por esses órgãos se apresentavam em duas fases I e II, como terapia nutricional nas dislipidemias. Nas novas recomendações há maior restrição ao consumo de gordura saturada e colesterol e o aumento no consumo total de gordura na forma insaturada, especificamente da monoinsaturada. A grande novidade é que a Associação Americana do Coração já indica o uso de alimentos funcionais como parte da dieta para dislipidemia. No Quadro 1 estão demonstradas as mudanças nas recomendações dietéticas para pacientes dislipidêmicos. Até pouco tempo atrás a dieta para tratamento das dislipidemias se resumia em restrição de alimentos ricos em gordura saturada e colesterol. A partir de pesquisas clínicas, utilizando-se alimentos, verificou-se que alguns componentes alimentares poderiam desempenhar papéis que vão além da nutrição básica. Surgem, assim, os alimentos funcionais. Segundo o International Life Sciences Institute, alimentos funcionais são aqueles que oferecem benefícios à saúde que vão além da nutrição básica, devido a propriedades fisiologicamente ativas de seus componentes alimentícios (International Life Sciences, 1999). A mais recente publicação sobre alimentos funcionais da American Dietetic Association enfatiza que os alimentos que têm um efeito potencialmente benéfico sobre a saúde quando consumidos regularmente, como parte de uma dieta variada e em níveis eficazes, podem ser chamados de funcionais, podendo incluir alimentos integrais, fortificados, enriquecidos ou beneficiados (American Dietetic Association, 1999). Na legislação brasileira de abril de 1999, Resolução 18 e 19, da Vigilância Sanitária, o termo utilizado para definir os alimentos funcionais é: alimentos com propriedades funcionais ou com propriedades de saúde (Anvisa, 1999). Neste artigo, apresentamos uma revisão da literatura recente que apóia a eficácia de oito alimentos funcionais na redução do risco da doença arterial coronariana (DAC). Soja A soja tem sido alvo de muitos estudos e sua eficácia é comprovada quanto ao seu efeito hipocolesterolêmico. Em 1995 foi realizada metanálise com 38 trabalhos, na qual se verificou que em pacientes que consumiram dietas com proteína da soja, em substituição a proteína animal, houve redução significativa de colesterol total, LDL-colesterol e triglicérides. A ingestão de proteína da soja variou de 17 a 124 gramas por dia, onde nestes estudos foram utilizados subprodutos protéicos da soja (proteína isolada, proteína texturizada e combinações desses dois subprodutos) (Anderson JW et al, 1995). Após esta metanálise, o Food and Drug Administration (FDA), em 1999, reconheceu, através de um amplo documento, que existem evidências científicas capazes de comprovar a eficiência da proteína da soja (25 gramas de proteína de soja/dia) em reduzir o colesterol plasmático e, conseqüentemente, o risco de doenças coronarianas (Hasler C, 2000). Trabalhos experimentais e clínicos sugerem que as proteínas e isoflavonóides da soja possam proporcionar benefícios em algumas doenças crônicas, por isso a soja tem sido empregada como alimento funcional.
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Bibliografia |
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