MÉTODO Foram analisadas 50 pacientes do Ambulatório de Patologia do Trato Genital Inferior do Hospital Santa Marcelina, no período de fevereiro de 1999 a fevereiro de 2000, com diagnóstico de lesão intra-epitelial cervical de alto grau (NIC III) através da citologia e/ou histologia. Foram levados em consideração a idade, o diagnóstico citológico ou histológico, achados colposcópicos e sua localização. Não houve critérios de exclusão.
RESULTADOS A média de idade do grupo estudado foi de 40,5 anos (21 a 72 anos) (Figura 1). Com relação ao diagnóstico de NIC III, este foi possível pela citologia em 26 pacientes (44%) e pela histologia em 19 pacientes (38%). A correlação entre a citologia e a histologia foi feita em 9 pacientes (18%) (Figura 2). Entre as pacientes estudadas, 43 (86%) apresentaram alterações colposcópicas (zona de transformação anormal – ZTA) (Figura 3). Dentre as alterações, a mais predominante foi o epitélio aceto-branco – EAB (32 pacientes – 64%) (Figura 4). Quanto à localização das alterações colposcópicas, 17 pacientes (34%) apresentaram a lesão no lábio anterior, 7 pacientes (14%) no lábio posterior e 18 pacientes (16%) em ambos os lábios (Figura 5). Das pacientes que apresentaram resultado de NIC III pela citologia, 18 (36%) tiveram alterações colposcópicas (ZTA). Das pacientes com ZTA, 24 (48%) foram confirmadas como NIC III pela histologia.
DISCUSSÃO O papilomavírus humano está altamente relacionado com potencial oncogenético para as neoplasias da cérvice uterina(2). Esse tipo de vírus tem vários componentes oncogenéticos integrados em seu genoma, além de suas lesões serem caracterizadas por sua alta carga viral. Os tipos mais prevalentes desses vírus com potencial oncogenético são o HPV subtipo 16 (65%) e o subtipo 18 (8%). A incidência da lesão intra-epitelial cervical de alto grau apresentou, a partir da década de 80, um aumento significante – 0,05% em 1971 para 0,25% em 1987. Uma das razões para esse aumento foi o incremento da colposcopia e divulgação da importância da colpocitologia oncótica(7). A idade média do diagnóstico da lesão intra-epitelial (NIC) apresentou declínio de 39,5 anos para 33 anos na década de 80(8). Geralmente a displasia cervical é assintomática(3). As pacientes com NIC III têm possibilidade maior de evolução para carcinoma invasor em cerca de 10% dos casos(1). A proporção de NIC III em relação a NIC II e I aumentou, nos últimos 20 anos, de 40% para 65,2%(7). Na adolescência a exposição precoce da zona de transformação a agentes sexualmente transmissíveis, associados a condições locais como ectopia e processos inflamatórios, propicia o primeiro contato celular com o HPV. A presença de HPV na mulher com esfregaços cervicais normais é idade dependente, sendo que 20% das mulheres têm idade entre 20 e 25 anos, 4,5% com 30 anos e 1,5% com mais de 30 anos. Os mecanismos imunes têm papel relevante no controle das infecções por HPV(4). O comportamento das lesões reflete a habilidade do sistema imunológico em eliminar ou suprimir eficazmente a expressão viral. A história natural desta infecção pode ser modificada, alterando o período de latência ou aumentando a agressividade viral. A imunidade celular e a infecção dependem do subtipo viral, da suscetibilidade do hospedeiro e da presença de co-fatores que atuem sinergicamente como fumo, gestação e outras infecções virais, entre elas o HIV(2,4).
CONCLUSÃO O tratamento curativo é muito discutível. Alguns acreditam ser impossível a cura, pois ainda não existem drogas antivirais específicas conhecidas. Na verdade, tal tratamento é tentado destruindo ou retirando-se tecidos que albergam o vírus, tornando impróprio o meio ambiente para que o vírus não se reproduza e desapareça. A colposcopia permanece o procedimento “padrão-ouro” para a decisão de conduta em qualquer mulher com lesão do trato genital inferior ou esfregaço citológico anormal, sendo de fundamental importância para a terapêutica complementar e prevenção da neoplasia cervical uterina.
|
1. Trabizi, SN et al. Epidemiological characteristics of womem with high grade CIN who do and do not have humn papillomavirus. British J Obstet Gynaec, 106: 252-7; 1999. 2. Xu X-C et al. Decrease expression of retinoic acid receptor, transforming growth factor b, involucrin and cornifin in cervical intraepitelial neoplasia. Clin Cancer Res, 05: 1503-8; 1999. 3. Lonky, NM et al. The clinical correlation of cervical displasia and cervical malignancy with referal cytologic results. Am J Obstet Gynecol, 181: 560-6; 1999. 4. Nobben, RM et al. Relation of human papillomavirus status to cervical lesions and consequences for cervical cancer screening – a prospective study. Lancet, 354: 20-5; 1999. 5. Nindl, I et al. Distribution of 14 high risk HPV types in cervical intraepithelial neoplasia detected by a non-radioactive general primer PCR mediated enzyme immunoassay. J Clin Patol, 52: 17-22; 1999. 6. Swan DC et al. Human papillomavirus (HPV) DNA copy number is dependent on grade of cervical disease and HPV type. J Clin Microbiol, 37: 1030-4, 1999. 7. Blohmer, JMD et al. Increased incidence of cervical intraepitelial neoplasia in young womem in the Mitte District, Berlim Germany. Acta Cytol, 43: 195-200; 1999. |