Revistas Fase R003 Id Materia 4475






Artigo Original
Pacientes com fibromialgia atendidos no Ambulatório de Dor da Unifesp
Fibromyalgia patients attended in the outpatients Pain Sector of Federal University of São Paulo


Chrystiany Joseti de Souza
Médica anestesiologista.
Adriana Machado Issy
Professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Rioko Kimiko Sakata
Professora associada e responsável pelo Setor de Dor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Endereço para correspondência: Rioko Kimiko Sakata – Rua Três de Maio, 61/51 – Vila Clementino – CEP 04044-020 – São Paulo – SP – Tel.: (011) 5576-4069 – E-mail: riokoks.dcir@epm.br

Recebido para publicação em 06/2009. Aceito em 10/2009.

Copyright Moreira Jr. Editora. Todos os direitos reservados.

RBM Nov 10 V 67 Suplemento

Indexado LILACS: S0034-72642010006200003

Unitermos: fibromialgia, dados demográficos, tratamentos.
Unterms: fibromyalgia, domographic data, treatments.

Numeração de páginas na revista impressa: 17 à 20

Resumo


Foi feita análise de prontuários de pacientes com fibromialgia atendidos no Setor de Dor da Unifesp no período de um ano, anotando dados, como idade, sexo, estado civil, ocupação, outras síndromes dolorosas associadas e tratamentos.

Introdução

A fibromialgia ou síndrome fibromiálgica é uma condição dolorosa crônica que afeta entre 1,3% e 4,8% da população(1). Atinge principalmente as mulheres e sua prevalência é maior na meia-idade(2).

Os critérios para diagnóstico são: queixa de dor nos quatro quadrantes do corpo, alguma parte da coluna vertebral e dor a digitopressão de pelo menos 11 de 18 pontos predeterminados (pontos dolorosos)(3-5).

Os pacientes também exibem uma série de outras manifestações: distúrbio do sono, fadiga, alteração do humor (depressão, ansiedade, irritação), sensação de edema, parestesia e alteração de memória.

São comuns comorbidades como síndrome do intestino irritável, enxaqueca, síndrome miofascial e lombalgia.

Pode ser desencadeada por fatores como estresse e condições dolorosas prévias. Está associada a disfunções neuroendócrinas e de neurotransmissores. Os pacientes apresentam níveis diminuídos de neurotransmissores inibitórios, aumento da concentração de neurotransmissores excitatórios, como substância P e desregulação do eixo hipotalâmico-hipófise-adrenal(6).

Vários tratamentos são empregados, mas nenhum promove bom resultado se utilizado isolado, e se preconiza um programa de tratamento abrangente, multidisciplinar e multifatorial que englobe informação e educação do paciente, farmacoterapia, exercícios físicos e abordagens cognitivo-comportamentais(7,8).

Pela prevalência e dificuldade para tratamento da síndrome achamos relevante fazer uma análise dos pacientes atendidos em nosso ambulatório.

Objetivo

Coletar dados sobre os pacientes, no período de um ano, atendidos no Ambulatório de Dor da Unifesp, com diagnóstico de fibromialgia.

Método

Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, foram analisados todos os prontuários dos pacientes atendidos no período de um ano com hipótese diagnóstica de fibromialgia, anotando-se informações sobre idade, sexo, estado civil, ocupação, outras síndromes dolorosas associadas e tratamentos.

Resultados

Características demográficas

Dos 134 pacientes, 129 (96,3%) eram do sexo feminino e 5 (3,7%) do sexo masculino. A faixa etária dos pacientes está na Tabela 1.

A ocupação profissional está relacionada na Tabela 2.

De acordo com o estado civil, 49,2% eram casados 23,8% solteiros 11,1% separados 8,9% viúvos e 6,7% não referiram.

As comorbidades e outras síndromes dolorosas estão descritas na Tabela 3.

Os exames complementares solicitados foram: radiológicos, função tireoideana, provas reumatológicas, ENMG.

Os tratamentos utilizados previamente ou prescritos no Ambulatório de Dor estão na Tabela 4.




Discussão

A análise dos dados mostrou uma prevalência bem maior nas mulheres, de forma semelhante à encontrada na literatura(9).

O acometimento foi maior na faixa etária entre 51 e 65 anos (44,02%) que, juntamente com a faixa de 36 a50 anos, perfaz mais de 80% da população atendida. Esses achados confirmam os dados da literatura, que mostram aumento da incidência de fibromialgia na idade adulta até atingir o pico na meia-idade e depois diminui conforme se avança em direção à terceira idade(10).

O número de pacientes afastados do trabalho foi grande, talvez por tratamento inadequado. O ganho secundário também deve ser levado em consideração.

O número de síndromes dolorosas associadas é grande e pode ser causa de aumento da intensidade da dor e piora da qualidade de vida.

Os antidepressivos foram as medicações mais amplamente empregadas no tratamento da fibromialgia, como na literatura(11).

Os antidepressivos que promovem inibição da recaptação da serotonina e da noradrenalina são efetivos no tratamento de outras condições dolorosas crônicas(12). Alguns antidepressivos possuem outras propriedades (antagonismo de receptores NMDA, bloqueio de canais iônicos), com evidências de efeito analgésico(13). Há evidências de bons resultados no tratamento da fibromialgia com antidepressivos(14).

Sendo a fibromialgia uma síndrome dolorosa crônica que se caracteriza por queixa músculo-esquelética difusa, os relaxantes musculares podem ajudar no controle da dor. Esses fármacos têm diferentes mecanismos de ação. A ciclobenzaprina foi o primeiro relaxante muscular estudado na fibromialgia e, até hoje, um dos mais utilizados. Uma revisão sistemática permite concluir que a ciclobenzaprina melhora a função global em pacientes com fibromialgia, com uma melhora modesta no sono e na dor(15). Outros relaxantes musculares, como tizanidina, clorzoxazona, carisoprodol e orfenadrina, são frequentemente associados com antiinflamatórios.

Outras classes de medicamentos, como os anticonvulsivantes e os benzodiazepínicos, são citados na literatura com grau de evidência moderado e fraco, respectivamente, sendo que os últimos são muito utilizados com o objetivo de auxiliar nos distúrbios do sono(16). Os anticonvulsivantes são indicados para paciente com fibromialgia, espasmo muscular, formigamento e crise aguda de dor. Esses agentes, tais como gabapentina, topiramato, pregabalina, podem reduzir a dor na fibromialgia(17). Os benzodiazepínicos agem aumentando a quantidade do neurotransmissor ácido gama-amino-butírico e promovem a inibição da transmissão de estímulos excitatórios para o encéfalo.

A lidocaína venosa promove bloqueio de canais de sódio, com estabilização da membrana celular e supressão da atividade ectópica neural e bloqueio simpático.

A atividade física é fundamental no tratamento da fibromialgia(18,19). As medidas físicas também são utilizadas com frequência(20).

Em conclusão a fibromialgia é uma síndrome dolorosa frequente e o tratamento pode ser difícil, necessitando de muitas modalidades, como medicamentos, medidas físicas e bloqueios.


EETC = estimulação elétrica transcutânea.




Bibliografia
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