Avanços no tratamento do câncer de próstata: temos muito que aprender nessa longa caminhada
Valdemar Ortiz
Editor Científico
Os tumores de mama e próstata são muito semelhantes em vários aspectos. Ambos apresentam a mesma incidência, 50.000 novos casos anualmente no Brasil, e ambos são hormônio-dependentes. Embora também se assemelhem em vários outros itens, o câncer de mama é mais estudado que o de próstata, desde a pesquisa básica até os ensaios clínicos, e, para isso, recebe maiores verbas públicas e do setor privado.
Por que essa diferença de tratamento para tumores tão freqüentes e de mesma importância para a saúde da população? Existe um fato muito importante que certamente contribui para o fenômeno da desigualdade: o desinteresse do urologista pelos ensaios clínicos. Essa constatação é mundial e explica por que, até hoje, não temos um estudo controlado para comparar prostatectomia radical com radioterapia. As tentativas que surgiram foram abortadas por falta de pacientes.
O urologista, ao contrário do oncologista, não tem a iniciativa de incentivar seu paciente a participar do recrutamento de doentes para os ensaios clínicos.
No câncer de mama a quimioterapia nas fases iniciais da doença é prática comum e se baseou em estudos que começaram nos anos 70. Dessa forma, as mulheres são encaminhadas ao oncologista mais cedo. O protocolo de tratamento do câncer de mama tem muito mais evidências científicas que o de próstata, o qual não apresenta marcadores genéticos ou imunohistoquímicos de risco que permitam estratificar melhor a terapia.
O tratamento da doença metastática no câncer de próstata ainda obedece o princípio da castração cirúrgica ou farmacológica iniciado há cerca de 60 anos.
Precisamos mudar nossa mentalidade e atitude em relação ao câncer de próstata e isso implica em lutar por mais investimentos na pesquisa básica e incentivar o paciente a participar de novos ensaios clínicos.
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