Neste volume continuamos a abordagem de tópicos de Imunologia Básica. A perspectiva para os próximos anos é de um exuberante florescer de anticorpos monoclonais e proteínas de fusão destinados a interagir com moléculas envolvidas em funções específicas de determinados subtipos celulares do sistema imune. O conhecimento do papel de cada uma dessas moléculas e de cada subtipo celular é crucial para o entendimento correto do mecanismo de ação desses fármacos e do planejamento terapêutico de cada paciente. Estamos adentrando a era da Medicina Molecular, em que o conhecimento médico tradicional deverá ser acoplado ao novo conhecimento de fisiologia em nível molecular e celular.
O presente número aborda a biologia molecular e celular dos linfócitos T, incluindo a origem de precursores na medula óssea, a passagem pelo timo, onde ocorre o processo de rearranjo genômico para expressão das cadeias a e b do receptor de linfócitos T (TCR) e o rigoroso processo de seleção em que apenas uma pequena parcela dos timócitos sobrevive. São descritas as sucessivas fases de expressão de moléculas CD4 e CD8, em que os timócitos optam pelo fenótipo final com que deixaram o timo. No processo de rearranjo genômico, são gerados pequenos círculos epissômicos de DNA, denominados TREC, de grande importância por caracterizarem os linfócitos recém-egressos do timo e, assim, fornecerem uma idéia sobre a dinâmica de produção, proliferação periférica e destruição dos linfócitos T.
Os linfócitos T apresentam uma complexa dinâmica de migração para diversos órgãos linfóides e não linfóides. Interagem com diversos tipos celulares, incluindo células apresentadoras de antígenos, linfócitos B, outros linfócitos T e células não linfóides. Neste processo, expõem-se a diferentes combinações de citocinas que determinam a diferenciação dos mesmos em subtipos linfocitários específicos, como os linfócitos Th1, Th2, Th17, Th3 e TR1.
São destacados os linfócitos imuno-reguladores e sua importância para a homeostase. Deficiência na função imuno-reguladora pode favorecer o desenvolvimento de respostas auto-imunes enquanto o excesso dessa função pode impedir a ação efetiva do sistema imunitário contra patógenos e células neoplásicas. Entre as células imuno-reguladoras incluem-se os linfócitos Th3, linfócitos gd, linfócitos Tr1, linfócitos CD8+Qa-1+, linfócitos T CD8+CD28-, células NK/T e as células T duplo-negativas. Uma fração majoritária dos linfócitos imuno-reguladores é a das células T reguladoras de ocorrência natural (TREG). As TREG representam 5% a 10% das células CD4. Apresentam alta densidade de CD25 e baixa densidade de CD127, além de expressar constitutivamente o gene Foxp3. Numerosos estudos têm sido feitos sobre essas células em modelos animais e em diversas doenças humanas de natureza auto-imune, neoplásica e infecciosa.
A caracterização dos subtipos de linfócitos tem sido possível pela identificação de marcadores fenotípicos específicos, tais como receptores de membrana, moléculas de adesão e o perfil de expressão de citocinas. Oportunamente, têm sido desenvolvidos ligantes específicos para esses marcadores fenotípicos, tais como anticorpos monoclonais, proteínas de fusão e pequenas moléculas sintéticas. Assim, a possibilidade de modulação da função dos diversos subtipos linfocitários ocorre quase pari passu com a descoberta e caracterização dos mesmos e identificação de sua participação nos diversos processos patológicos.
Em Reumatologia a terapia biológica tem sido aplicada a pacientes com artrite reumatóide lúpus eritematoso sistêmico, espondilite anquilosante, artrite psoriásica e vasculites sistêmicas. O pragmatismo dos conceitos imunológicos e da emergente terapia imunobiológica é ilustrado neste número pelo resumo de um artigo de revisão sobre novas possibilidades terapêuticas no lúpus eritematoso sistêmico.
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