Numeração de páginas na revista impressa: 14 e 15
O câncer de testículo, por afetar adultos jovens, pode resultar em infertilidade, temporária ou permanente, causada pelo próprio tumor ou como consequência dos tratamentos adjuvantes, como quimioterapia, radioterapia ou linfadenectomia. No Banco de Tecidos e Células Germinativas da Disciplina de Urologia da EPM (UNIFESP) estão estocadas amostras de sêmen de mais de 800 homens portadores de diferentes neoplasias malignas, das quais, cerca de 300, provenientes de pacientes portadores de câncer de testículo. Antes da orquiectomia 10% dos pacientes já se encontram azoospérmicos e cerca de 50% apresentam oligozoospermia (<10 milhões/mL) (Spaine, 2007). Essas alterações ocorrem na mesma frequência em seminomas e não seminomas (Fraietta, 2005). As possíveis causas dessas alterações são: disfunção testicular primária, atividade endócrina devido a substâncias produzidas pelo tumor (alfa-fetoproteína, gonadotrofina coriônica, estradiol, LH), produção local de citocinas e interleucinas, além do estresse emocional que pode levar à liberação de catecolaminas e prolactina.
A radioterapia utilizada como tratamento adjuvante à cirurgia para os tumores seminomatosos, quando aplicada no retroperitônio, na dose recomendada, causa alterações na espermatogênese. O testículo remanescente recebe cerca de 8% da radiação aplicada e as células mais sensíveis à radiação são as espermatogônias tipo B, enquanto que as espermátides são radiorresistentes.
Gráfico 1 – Azoospermia após a radioterapia.
Gráfico 2 – Recuperação da espermatogênese após a radioterapia.
Grafico 3 – Azoospermia após a QT.
Gráfico 4 – Recuperação da espermatogênese após a QT.
Após três meses do término do tratamento com a radioterapia cerca de 45% dos pacientes se tornam azoospérmicos e, ao final de um ano, 10% estarão azoospérmicos e assim permanecerão mesmo após três anos (Gráfico 1). A concentração de espermatozoides se eleva gradativamente até três anos após a radioterapia (Gráfico 2).
A quimioterapia, frequentemente empregada, principalmente, nos tumores não seminomatosos, também causa sérios danos à espermatogênese. O dano depende do tipo e da dose das drogas empregadas e da associação de diferentes drogas. A QT causa atrofia do epitélio germinativo e aplasia completa das células germinativas. A cisplatina atinge também as células de Leydig e Sertoli.
O Gráfico 3 mostra que após três meses, o término da quimioterapia, 55% dos pacientes estão azoospérmicos e ao final de 36 meses 10% permanecerão azoospérmicos.
O Gráfico 4 ilustra a evolução da concentração de espermatozoides após a QT em que se observa que a sua recuperação ocorre após 36 meses. No Banco de Tecidos e Células Geminativas da Disciplina de Urologia da EPM (UNIFESP) 20% dos pacientes fizeram a coleta antes da orquiectomia e 80% após a cirurgia. Duas ou três amostras de sêmen, coletadas com intervalo de dis a três dias, são suficientes. Até o presente momento 15% dos pacientes utilizaram o sêmen congelado, sendo o mais antigo com nove anos após a coleta.
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